21 dezembro 2006

Já não há ditadores como o Saparmurat Niazov...


Até porque o Presidente Vitalicio, o "Pai de todos os Turquemenos", o bizarro Saparmurat Niazov - omnipresente em retratos por todos os cantinhos da Turqueménia - morreu hoje.
Era tão amigo do seu povo que garantiu a todos os turquemenos um lugar no paraíso. Bastava ler a obra de estudo obrigatório "Rukhama" (Espiritualidade), escrito em 2001, já que o Presidente declarou que tinha pedido a Alá (é um país islâmico - mas isto seria igualmente ridiculo no caso de ser outra coisa que não islâmico) para que as portas do paraíso se abrissem para quem lesse o livro em casa, em voz alta, pelo menos três vezes.
Ordenou diversos gastos milionários bem catitas, não sei se já concretizados ou não:
- Um Zoo no deserto de Karakum, com a presença obrigatória de pinguins, numa zona em que os termómetros estão quase sempre acima dos 40º.
- Uma enorme pista de gelo para mil pessoas no deserto.
- Um palácio de casamentos.
Por outro lado, o Saparmurat Niazov era, tal como aqui um certo presidente da Câmara, um amigalhaço da cultura, tendo proibido a ópera, o bailado, o circo e os auto-rádios.
Proibiu essas modernices de dentes de ouro - talvez porque precisou do ouro para construir uma estátua em ouro na capital Ashkabad, daqueles fixes, que têm uma base rotativa para estarem sempre viradas para o sol - e também barbas, cabelos e bigodes compridos.
Outra das coisas boas que este senhor da Turqueménia (ou Turquemenistão, é o mesmo) fez foi controlar a cólera e a SIDA. Como ele o fez? Simples, declarou as doenças ilegais e proibiu que se falasse delas.
Mudou os nomes dos dias e dos meses. Exemplos? Maio passou a ser Markhrumkuli, o nome do seu poeta preferido, e a segunda-feira o "dia jovem".
E relacionado com a alimentação, duas medidas emblemáticas:
- A mudança do nome do pão para "Gurbansoltan-edje", isto é, o nome da mãe dele.
- E a elevação do estatuto do melão ("uma prenda dos deuses") à categoria de "Festa Nacional".

Assim de repente, acho que o Borat se enganou no país...

De resto, pormenores desinteressantes deste país onde o petróleo e o gás natural abundam, são uma taxa de desemprego a rondar os 60% (sim, sessenta), a inexistência de liberdade de imprensa e claro, o facto de provavelmente irem entrar numa guerra civil ou coisa do género na luta pela sucessão do Pai Vitalicio, que pelos vistos deixou alguns filhos legitimos e ilegitimos para a disputa do seu lugar.

Para quem ainda não acredite que a Turqueménia existe mesmo (eu sei que é dificil... festa do melão?) e pense que isto é um texto de ficção pode começar por aqui: http://en.wikipedia.org/wiki/Turkmenistan

2 comentários:

  1. No meio de isso tudo houve uma coisa que me fez grande confusão:
    Quando alguém estiver a comer um pão na Turqueménia terá de dizer que está a comer uma Gurbansoltan-edje, certo?

    Não lhe fazia confusão ver meia população a dizer alto e bom som que lhe estavam a "comer a mãe"?

    :|

    Tens razão, já não se fazem ditadores assim.

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